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SIMplex

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25
Set09

Vale a pena ler

Palmira F. Silva

A análise de Pedro Morgado de alguns pontos do programa do BE deveria ser de leitura obrigatória. Realço aqueles pontos, referentes a I&D, que me deixam realmente de cabelos em pé, embora a promoção do consumo de drogas e de banhas da cobra também não me tenha sossegado muito:

 

«Assumir o controlo público da investigação científica e da tecnologia, dando prioridade às alternativas no campo das energias renováveis e da eficiência energética que permitam o uso democrático dos recursos»
Controlo público da investigação científica? Onde é que eu já vi isto? URSS? China? Coreia do Norte?

«Criação de um banco de cérebros em Portugal para promover uma investigação científica séria, eficaz e segura na área das Neurociências (como Alzheimer e Parkinson), acabando com o sacrifício de centenas de animais por ano para efeitos deste estudo»
Este Bloco de Esquerda é mesmo um perigo. Primeiro dizem que querem controlar a investigação científica e, umas linhas abaixo, demonstram que não percebem mesmo nada de investigação científica. Quem lê esta frase até pensa que a investigação que se faz em Portugal não é séria, eficaz e segura, o que é verdadeiramente ultrajante para todos os investigadores em neurociências do país.

20
Set09

Ele acha, nós achamos, todos devem achar

Palmira F. Silva

Imperdível a crónica de Ferreira Fernandes no Diário de Notícias de hoje, a propósito do nacional-achismo, certamente o responsável para que, em Agosto, o Público decidisse transformar suspeições com "explicações grotescas"  (provedor do Público dixit) em manchetes sensacionalistas. Diz o cronista no seu «Ele acha, logo existe»:

 

«Não venham cá com os vossos factos que eu tenho as minhas suspeitas - eis Portugal cada vez mais assim. Já tínhamos os inspectores da Judiciária que falhavam uma investigação sobre factos e acabavam a vender livros sobre as suas suposições. Isso era a prática corrente - as vitórias morais no futebol eram a expressão mais popular dessa tendência. Há semanas, uma líder partidária, Manuela Ferreira Leite, decidiu dar base programática à coisa: "Eu não quero saber se há escutas ou não, eu não quero saber se há retaliações ou não, o que é grave é que as pessoas acham que há." O nacional-achismo passou a doutrina oficial.»

 

E já que estamos em achismos, acho que o último parágrafo é realmente importante, porque se fosse real o tal clima de medo, a tal asfixia democrática com que o PSD substituiu um programa vazio e a total falta de ideias, não floresciam tantas teorias achistas, sem qualquer sustentação...

 

«Como se sabe, o achismo vive numa nebulosa e alimenta-se de leves impressões - tivesse sido encontrado um pequeno facto e lá ia a tese de Belém por água abaixo. Felizmente, podemos continuar a achar, a suspeitar, a desconfiar. É um modo de vida como outro qualquer. Só peca quando descamba para a sua variante de apontar o "clima de medo que se vive." A frase destrói a tese. Se houvesse mesmo um clima de medo, eu acho, suspeito e desconfio que não havia tanta gente a apontá-lo.»

08
Set09

Inovação e desenvolvimento

Palmira F. Silva

De acordo com um press release da Eurostat divulgado hoje, a inovação em Portugal cresceu mais que a média da UE nos últimos 5 anos, em particular nas PMEs. Numa altura em que tantos acordaram para a realidade do tecido empresarial nacional e rasgam vestes em prime time em defesa das PMEs, importa perceber que é necessário continuar as políticas do presente governo em relação a ID&D e inovação. Só assim estas podem crescer de forma sustentada e competitiva.

 

Por outras palavras, o que escrevi no DE sobre energias renováveis pode ser aplicado ipsis verbis para o que o Eurostat confirma: ID&D e inovação devem ser prioridades do programa de qualquer partido que pretenda governar o país e apostar no futuro. Ao ler os programas dos principais partidos, é fácil verificar que apenas um deles assume esse desígnio.

07
Set09

Vale a pena ler

Palmira F. Silva

«(...) De facto, os valores deste país andam completamente trocados. Confunde-se liberdade de expressão/informação com histeria populista jornalística; confunde-se jornalismo de investigação com jornalismo puramente justiceiro; aceita-se como normal que uma pessoa, aproveitando-se de um meio de difusão tão amplo, faça um jornal em torno de convicções pessoais. Por fim, vamos ao ponto de considerar que quem tem milhões investidos numa empresa, deve abdicar dos poderes de direcção e gestão, nomeadamente quando está em causa uma forma, no mínimo, tão peculiar de fazer jornalismo. Convém relembrar que a TVI não é um blog ou um canal de comédia… Também não é suposto ser um feudo. À TVI foi atribuída uma licença como canal generalista, pretendendo-se, naturalmente, que o principal jornal do dia seja um exercício sério e imparcial. (...)

 

A verdadeira liberdade só existe, quando não é permanentemente abusada por quem, bem sabendo o poder que tem de formar convicções pela vastíssima audiência que tem ao seu dispor, abusa desse poder...

 

Não faço ideia quem da Media Capital tomou a decisão de suspender o programa de Manuela Moura Guedes. Mas quem o fez, teve coragem, muita coragem. Nem todos a têm quando se trata, muito provavelmente, de trocar share por jornalismo.»

 

Francisco Proença de Carvalho no 31 da Armada.

05
Set09

Da irracionalidade política e suas consequências

Palmira F. Silva

 

Há uns tempos escrevi um post na jugular que aborda o que se pensa ter sido a primeira guerra da propaganda, com os resultados, catastróficos, que podem ser apreciados em San Giminiano na Toscana. Esta forma de combate político medieval, assente na maledicência e destruição do trabalho do oponente, deu um contributo não despiciendo para que a cidade que era um dos mais florescentes centros italianos à época seja hoje uma pequena vila medieval com interesse apenas turístico.

 

Naquele que se pensa ser o primeiro cartaz de propaganda da História,  os apoiantes do papado romano acusavam os seus rivais seculares, os gibelinos, de promoverem o «pecado» considerado mais herético, «o agir contra natura, desarmonia, e falta de sentimento de comunidade». Por outras palavras, os guelfos, assentes na mitologia então dominante, lançavam um boato infundado sobre os seus oponentes políticos e acusavam-nos de fomentarem o colapso civilizacional.

 

Os últimos episódios da politiquice nacional, em que, à falta de ideias, se ululam, com estridência e grandes rasgos de vestes, acusações análogas - com o intuito de obnubilar a discussão e induzir enviesamento cognitivo no eleitorado -, fizeram-me recordar estes métodos de propaganda política. Em particular, fizeram-me recordar as consequências deste tipo de irresponsabilidade política.

 

Lançar suspeições totalmente infundadas em todas as direcções e esperar que pelo menos algumas peguem, não é debate político admissível no século XXI, muito menos na grave situação em que o país se encontra. Que ficará certamente certamente mais grave se continuarmos o que comentadores sortidos se devotaram ontem em todas as televisões: discussão de boatos e teorias da conspiração em vez de debate de ideias. Se não pretendermos pôr em causa o futuro do país, importa recentrar no que é realmente importante. E importa sobretudo recordar as lições da História e ter presentes as torres de San Giminiano...