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SIMplex

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09
Set09

A sacralização da ciência II

Tiago Julião Neves

A sacralização da tecnologia conjugada com a ignorância cultural das elites e das classes dirigentes é uma receita desastrosa. A humanização da sociedade requer um bailado de disciplinas em pé de igualdade, das ciências à história e da filosofia à cultura.

 

A aposta na cultura e nas ciências sociais é tão essencial como o (excelente) investimento feito na área da ciência e da tecnologia pelo actual Governo. Ambas devem informar as políticas públicas e em conjunto contribuem para sociedades mais justas e equilibradas.

 

O PS já reconheceu que poderia ter feito mais pela cultura e assumiu que esta será uma preocupação central nos próximos quatro anos.

 “A cultura constituirá, na legislatura de 2009/2013, uma prioridade do Governo do PS, no quadro das políticas de desenvolvimento, qualificação e afirmação do País.

São três os nossos compromissos centrais:

• Reforçar o orçamento da cultura durante a legislatura, de modo a criar as condições financeiras para o pleno desenvolvimento das políticas públicas para o sector;

• Assegurar a transversalidade das políticas culturais, garantindo a coordenação dos ministérios e departamentos envolvidos em políticas sectoriais relevantes para a cultura;

• Valorizar o contributo decisivo da criação contemporânea para o desenvolvimento do País, fomentando a constituição de redes ou parcerias, e promovendo o aumento e diversidade das práticas culturais, através de políticas transparentes de apoio aos criadores, à formação de públicos e a uma maior interacção entre cultura, ciência e educação.”

Programa do Partido Socialista, pág. 55

 

A especialização exagerada em fases formativas é errada porque nos desumaniza. Permitir que relações humanas onde a confiança e a empatia são fundamentais (como na relação médico-doente) se reduzam a relações tecnológicas é grave. Combater a hiper-especialização precoce é prevenir o risco de viver numa sociedade de técnicos competentíssimos, mas adultos disfuncionais, seres unidimensionais política e socialmente inaptos.

 

Precisamos de indicadores quantitativos como o número de consultas, mas também de indicadores qualitativos que acomodem aspectos complexos em time-frames  mais longos. A saúde física e mental que se reflecte no bem-estar das pessoas parece-me um excelente exemplo dessa necessidade. À semelhança de outros países europeus, deveríamos incorporar a Psicologia no SNS porque vivemos num mundo cada vez mais acelerado que dificulta a interiorização das vivências diárias e onde os complexos sobre a importância da saúde mental não devem ter lugar.

 

Também algumas terapias holísticas e alternativas (medicina chinesa, reiki, acupunctura, ayurvédica, homeopatia, etc.)  deveriam eventualmente ser integradas no SNS, porque a medicina ocidental tradicional é insuficiente na resposta a muitas das doenças modernas. Não falo de susbstituição mas de complementaridade em tratamentos específicos e da importância de sacudir o monopólio da medicina tradicional, obrigando-a a competir e a actualizar-se permanentemente.

 

Ciência, prática ou cultura: fundamental é ter humildade e fomentar a diversidade do conhecimento, avaliando os processos e os resultados.

09
Set09

A sacralização da ciência I

Tiago Julião Neves

 

Nas últimas décadas assistimos a uma crescente sacralização da ciência nas sociedades ocidentais. O espaço deixado vago pela desilusão de gerações urbanas e cosmopolitas com as religiões tradicionais foi progressivamente infiltrado pelos extraordinários progressos científicos alcançados pela humanidade.

 

A permuta da fé tradicional por outra de matriz tecnológica em que sobressai a facilidade de dominar a natureza inicia-se ao ritmo de missões lunares, de computadores 48k e de operações de coração aberto. As religiões dominantes perdem o monopólio do sagrado e a ciência inicia uma marcha triunfal. O Homem descobre que não precisa de Deus para descodificar o genoma nem da sua bênção para navegar no ciberespaço.

 

Aplaudo a aparente libertação, mas trocar Deus pelo iPod pode ter graves consequências se à ciência se atribuir lugar divino. Assumir que o futuro colectivo depende mais de desígnios externos (cientistas iluminados) do que do somatório das nossas acções individuais, infantiliza e desresponsabiliza a espécie humana.

 

 

 

Nas alterações climáticas por exemplo, não há volta a dar, a tecnologia só não chega e Deus pode chegar atrasado. Neste caso pregar a salvação pela ciência é extremamente perverso porque escamoteia a real necessidade de alterar hábitos individuais insustentáveis, no muito curto prazo. É fundamental não nos iludirmos com devotos do culto tecnológico como Lomborg, e assumirmos de forma consciente e solidária o ónus político de medidas tão impopulares quanto urgentes, porque o custo de não agir já será várias vezes superior no futuro, conforme atestam o Relatório Stern e o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.

 

É claramente mais agradável acreditar no milagre dos biocombustíveis do que andar mais a pé e de transportes públicos. Sacrificar bem-estar imediato em nome de medidas duras cujos efeitos só serão visíveis num futuro distante acarreta custos políticos óbvios para o governo que as adoptar, mas é também uma marca de responsabilidade governativa.

 

O Governo PS (que não é perfeito) tem dado passos consistentes no sentido de alterar a matriz científico-tecnológica da nossa sociedade através da aposta em bolsas de investigação e desenvolvimento, mas também em áreas chave como as energias renováveis e a mobilidade eléctrica. É apenas o início de um caminho longo e incerto, que não dispensará afinações de rumo e alterações aos comportamentos individuais. Mas o fundamental é que o rumo central está traçado a caminho da sustentabilidade e representa uma forma de ver o Mundo onde se reconhece a existência de limites, que acredito é a mais correcta ética, política, social, ambiental e economicamente.

 

A ciência e a tecnologia são elementos fundamentais de um futuro sustentável em conjunto com muitas outras disciplinas do saber. As tecnologias actuais não merecem um papel sagrado, até porque seria uma deselegância para com a "enxada", tecnologia de ponta do neolítico, mãe da agricultura e das trocas comerciais que nos permitiram acumular riqueza para um dia termos direito à Cérelac e ao MIT.

 

 

Nota: Para evitar aproveitamentos informo que apoio o excelente e pioneiro investimento realizado pelo Governo PS em matéria de ciência e tecnologia ao longo dos últimos 4 anos, o que não considero de todo incompatível com a crítica ao papel quase divino da ciência na sociedade contemporânea ocidental.

22
Ago09

De vento em popa sem o nuclear às costas, com mais ondas e marés, sol e barragens, mas provavelmente menos peixinhos da horta

Tiago Julião Neves

Aparentemente o meu post anterior suscitou a alguns a ideia de que a aposta nas energias renováveis nos isenta de investir na redução dos consumos supérfluos ou na aposta em larga escala na eficiência energética. Nada mais errado! Estes são aspectos absolutamente prioritários que devem ser incentivados em conjunto com as energias renováveis e a alteração de comportamentos se quisermos ter o vislumbre de um futuro sustentável.

 

Se as apostas específicas deste governo na área das renováveis foram as melhores ou se os níveis de subsidiação foram os mais adequados são questões demasiado complexas para debater num único post. Certamente houve opções menos felizes, mas parece-me fundamental que o governo PS tenha efectuado uma escolha em prol das energias renováveis, face a cenários alternativos como o nuclear ou a proliferação de centrais dependentes de combustíveis fósseis. Convém também compreender se as críticas mais acérrimas têm por base os méritos ou deméritos das opções técnicas aprovadas, ou os interesses que favorecem ou contrariam.

 

A aprovação de legislação exigente sobre eficiência energética para os edifícios novos é um passo fundamental para reduzir o desperdício, mas é igualmente crucial apresentar uma estratégia ambiciosa para a reconversão do parque habitacional existente. O apoio a soluções do tipo fotovoltaico e solar-térmico ao nível residencial podem ter aqui um papel muito importante, que é reforçado pelo facto de uma central solar fotovoltaica não ter ganhos de eficiência significativos face à mesma capacidade instalada em residências. Significa isto que os projectos das centrais fotovoltaicas de Serpa e da Amareleja (as maiores do mundo) são aventuras megalómanas? Penso que não, porque a importância destas centrais extravasa em muito a relevância da energia efectivamente aí produzida: são projectos de marketing nacional que colocam Portugal no mapa das energias renováveis e na linha da frente de um sector que movimenta biliões de euros e cresce a um ritmo exponencial. 

 

29
Jul09

BlogConf

Luis Novaes Tito

BlogConf Ainda sobre o WebCast da BlogConf há que ler o que Paulo Querido, que moderou e fez concretizar o mais importante e inovador acontecimento da Blogos(fera) política portuguesa realizada até hoje, acabou de escrever.

 

Comparar o que se passou naquela sala com qualquer outra acção realizada até agora, como já vi por aí tentar fazer, é pura ficção.

 

Aquilo não foi uma acção politico-partidária como outras já anteriormente ensaiadas por actores políticos menores, mas uma outra coisa que reuniu comentadores de todas as tendências políticas para questionarem, em meio interactivo directo, o Secretário-geral do PS que é também o Primeiro-ministro português.

 

Como diz Paulo Querido, o falhanço do WebCast pode ser um fait-divers útil para o portuguesíssimo bota-a-abaixo mas, acrescento eu, por muito que se tente desvalorizar a acção e por muito que se tente menorizar com a comparação com outros ensaios já anteriormente realizados (ou a realizar ainda agora), ninguém poderá alterar a marca que ali se construiu.

 

O PS, Sócrates, Paulo Querido, José Seguro Sanches e os Bloggers presentes marcaram a diferença e estão todos de parabéns.

 

( Também publicado em simultâneo nos: a Barbearia do Sr. Luís e Eleições2009/o Público)

28
Jul09

Conservadorismo Atávico? Jamais!

Bruno Reis

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Rodrigo Adão da Fonseca em dose dupla e ainda dizendo mais o Paulo Marcelo resolveram responder ao que apelidam de deslumbramento tecnológico do PS.

 

Vale a pena responder a estes postes pelo que têm de revelador relativamente às alternativas de governo com que nos deparamos.

 

Paulo Marcelo oferece-nos esta pérola de política verdadeira: Como explicou o Rodrigo Adão da Fonseca, os erros socialistas neste campo são os habituais. Por um lado, pensar que deve ser o Estado, e não as empresas em livre concorrência, a comandar todo o investimento em novas tecnologias. Ou a literacia anda fraca por esses lados, ou isto é uma mentira das grossas. Alguém no SIMplex ou no programa do PS defendeu que o Estado deve “comandar todo o investimento em novas tecnologias”? Quanto a política de verdade e propaganda estamos conversados.

 

26
Jul09

Da democratização pela tecnologia

Sofia Loureiro dos Santos

 

 

Para além das vantagens que já nomeei, especificamente na área da saúde, a aposta nas novas tecnologias e na informatização é uma aposta na melhoria de acesso ao conhecimento, nomeadamente com a utilização da internet, na possibilidade de qualquer um poder ler um artigo, fazer pesquisas históricas, científicas, ler jornais, contactar pessoas das mais várias áreas geográficas, fazer compras, debater assuntos, visitar museus, apreciar música, descarregar livros em PDF, publicar as suas opiniões, usar serviços públicos como os de finanças, a loja do cidadão, marcação de consultas, etc., etc.

 

26
Jul09

O grande conundrum

Leonel Moura

O resultado das próximas eleições será decidido em grande medida pela capacidade em demonstrar que só com o PS de José Sócrates o país pode continuar a evoluir e modernizar-se. E, se refiro o PS de José Sócrates é, desde logo, porque há muitos PS's dentro do PS – e nem todos me merecem apreço – mas porque os últimos anos mostraram que nunca Portugal teve um governo tão contemporâneo de si mesmo. As voltas do acaso e da história levaram ao poder uma parte considerável dos melhores e mais bem preparados do nosso tempo.

Nunca o sobressalto tecnológico foi tão intenso; nunca a ciência – na sua organização, meios, práticas e capacidade de intervenção nacional e internacional –, teve um avanço tão marcante como neste governo; nunca antes muitas medidas, da educação à saúde, ambiente ou economia foram tão ousadas e produtivas. Hoje Portugal é uma referência mundial na ciência e na tecnologia. Hoje Portugal, pequeno país periférico, é capaz de gerar programas que servem de modelo para o resto do mundo.

26
Jul09

Das idolatrias modernas

Sofia Loureiro dos Santos

 

É verdade. Rodrigo Adão da Fonseca tem razão. Eu deslumbro-me com a informatização.

 

Deslumbro-me com a possibilidade de ter dados, que posso estudar. Deslumbro-me com o facto de esses dados me ajudarem a perceber onde estão os constrangimentos, os problemas, as insuficiências, para as prevenir e melhorar. Deslumbro-me com a possibilidade de monitorizar procedimentos que menorizam o erro.

 

O mérito deste governo foi, de facto, demonstrar como é útil a informatização dos serviços públicos, como ajuda à diminuição do desperdício, como facilita a avaliação e a eficácia, como rentabiliza o tempo e melhora a qualidade dos serviços e dos utentes.

 

O meu deslumbramento chega mesmo a dizer que a informatização dos serviços públicos corresponde a uma revolução indispensável para a qualificação dos mesmos.

 

Não chega para a reforma da administração? De acordo, mas é um salto de gigante nesse sentido. E este governo, para além de o ter percebido, defende-o e implementa-o.

 

26
Jul09

Jamais/Jamé bate recorde

Bruno Reis

Não me atreveria a responder a este jamé [sic] do Rodrigo Adão da Fonseca por vez da Sofia. No entanto, como no fundo e bem espremida este laranja diz que tudo o que a Sofia afirma é verdadeiro e bom, não há muito a que responder.  

 

Como simplex leitor atrever-me-ia (ainda assim) a dizer que não me parece que alguém na esquerda seja tão optimista que pense em dar computadores a analfabetos. Ou seja, e isto parece ser algo que alguma direita por alguma razão (falta de literacia?) tem dificuldades em perceber: o Magalhães pressupõe miúdos que saibam ler e escrever. Ou seja, uma (computadores) não é suposto substituir a outra (saber ler e contar). Literacia = bom. Literacia electrónica = também bom. 

 

Também não me parece certo ver um utópico optimismo de esquerda  no pensar-se que, em princípio, os médicos e outros profissionais da saúde são alfabetizados. (Até me parece que o PSD ou alguém por ele colocar isso em dúvida será talvez visto  como um insulto).

 

Mas o verdadeiramente importante do poste é a conclusão:

 

a competitividade não depende da "vontade política", nem do "investimento público", nem da "aposta em novas tecnologias". Depende, sim, de drivers pouco simpáticos para o socialismo centralizador. A competividade assenta na inovação dos agentes privados, na diminuição da carga fiscal, na educação, na libertação do tecido económico do peso da burocracia e, sobretudo, na livre concorrência, que não pode ser distorcida pelas intervenções governamentais ou dos agentes públicos.

 

Mas esperam lá... não foi a direita que andou, há dias, a massacrar o agente público conhecido por Governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, porque não interveio mais no BPN (depois do escândalo, claro)?

 

É sabido que a memória política em Portugal é curta, mas isto é um novo recorde.

24
Jul09

SNS e informatização

Sofia Loureiro dos Santos

 

 

A blogosfera afirma-se como um espaço de debate pré-eleitoral, reunindo-se em blogues colectivos ou manifestando-se em blogues individuais.

 

Para já a formação do SIMplex despoletou a emergência do Jamais (para ler em francês), alinhando-se os guerreiros de cada lado da barricada.

 

Ainda bem. É claro, honesto, interessante e divertido. Ma é conveniente não esquecer o objectivo da batalha: discutir opções políticas, alternativas, discutir áreas de actuação em falta, resultados, ideologias.