Palmira F. Silva
Imperdível a crónica de Ferreira Fernandes no Diário de Notícias de hoje, a propósito do nacional-achismo, certamente o responsável para que, em Agosto, o Público decidisse transformar suspeições com "explicações grotescas" (provedor do Público dixit) em manchetes sensacionalistas. Diz o cronista no seu «Ele acha, logo existe»:
«Não venham cá com os vossos factos que eu tenho as minhas suspeitas - eis Portugal cada vez mais assim. Já tínhamos os inspectores da Judiciária que falhavam uma investigação sobre factos e acabavam a vender livros sobre as suas suposições. Isso era a prática corrente - as vitórias morais no futebol eram a expressão mais popular dessa tendência. Há semanas, uma líder partidária, Manuela Ferreira Leite, decidiu dar base programática à coisa: "Eu não quero saber se há escutas ou não, eu não quero saber se há retaliações ou não, o que é grave é que as pessoas acham que há." O nacional-achismo passou a doutrina oficial.»
E já que estamos em achismos, acho que o último parágrafo é realmente importante, porque se fosse real o tal clima de medo, a tal asfixia democrática com que o PSD substituiu um programa vazio e a total falta de ideias, não floresciam tantas teorias achistas, sem qualquer sustentação...
«Como se sabe, o achismo vive numa nebulosa e alimenta-se de leves impressões - tivesse sido encontrado um pequeno facto e lá ia a tese de Belém por água abaixo. Felizmente, podemos continuar a achar, a suspeitar, a desconfiar. É um modo de vida como outro qualquer. Só peca quando descamba para a sua variante de apontar o "clima de medo que se vive." A frase destrói a tese. Se houvesse mesmo um clima de medo, eu acho, suspeito e desconfio que não havia tanta gente a apontá-lo.»