REFLEXÕES FINAIS (I)
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
É impossível não comentar a extraordinária afirmação de Manuela Ferreira Leite sobre a ausência de asfixia democrática na Madeira. Mas o mais fantástico foi a justificação:
Então Sócrates não foi eleito? Ou será que Manuela Ferreira Leite duvida das eleições de há 4 anos?
A credibilidade de Manuela Ferreira Leite e do PSD acaba-se rapidamente com este tipo de declarações. O aproveitamento que fez do caso TVI, muito bem desmontado por Carlos Santos, resulta em reacções como a de Daniel Proença de Carvalho, que distingue entre liberdade de expressão e atentado ao bom nome, difamação e acusações na praça pública.
Saíram as primeiras sondagens para as legislativas. Há ainda muito para fazer.
Nota: Também aqui.
Há uma coisa que não posso deixar de dizer sobre esta ideia da asfixia democrática. Não sou militante do PS, sou assumidamente libertário, vulgo anarquista, com um comportamento e até alguns livros publicados sobre o assunto. Como artista preciso do máximo de liberdade, sob o risco de não conseguir desenvolver uma actividade e, já agora, uma ambição que está por sua natureza para além das convenções e daquilo que é aceite.
Do que conheço, e já conheço alguma coisa, nem o PS enquanto organização, nem a vasta maioria dos socialistas com quem me fui cruzando nas curvas da vida, alguma vez reagiram mal à minha condição de artista e anarca. Pelo contrário, nunca vi um partido mais aberto à diferença, mais tolerante, mais empenhado nas novas coisas e nas novas ideias. Há comprovadamente uma cultura da liberdade instalada no PS que não vejo nos outros partidos, da direita ou da dita esquerda, salvo rarissimas excepções. Há, para além disso, neste PS de Sócrates uma genuína vontade de acompanhar o que efectivamente vai fazendo o mundo de hoje e do futuro. Uma abertura, uma ambição, uma respiração que só pode favorecer o país e os portugueses. Não encontro isso em mais partido nenhum. Confirmo sim, todos os dias, a asfixia do medo, do conservadorismo, da demagogia.
Por isso sobre asfixias estamos conversados.
Juan Luis Cebrián, patrão da Prisa, empresa espanhola que detém a TVI, terá mandado acabar com o Jornal Nacional que MMG fazia às sextas. O director-geral da TVI opôs-se, mas não levou a melhor. A ter sido assim, como afirmam os media nacionais, foi uma interferência directa e abusiva na campanha eleitoral portuguesa. Verdade que nenhum patrão admite que um subalterno lhe chame estúpido. Mas uma acção disciplinar não pode traduzir-se em interferências editoriais. Isto tem de ser explicado.
Se é verdade que a TVI tem prontas peças jornalísticas sobre novos desenvolvimentos do caso Freeport, ou sobre o que seja, devia tê-las posto ontem no ar. No limite, caso a hierarquia o impedisse, essas cachas deviam ter sido passadas à concorrência. Não podem é dizer: a Manuela não está, as notícias ficam na gaveta. A TVI não é uma banda rock de garagem que fica inibida de ensaiar porque o pai do baterista, irritado com o barulho, desligou a corrente.
Estamos todos à espera de ver essas cachas. Nem que seja no You Tube.
Realmente hoje é um dia de que a democracia não se pode orgulhar. A total irresponsabilidade perigosa de José Aguiar Branco e de muitas outras personalidades ao acusar José Sócrates e o PS de terem forçado a demissão de Manuela Moura Guedes, é um desrespeito total pelas regras de um estado democrático.
É inaceitável que se levantem este tipo de suspeitas e calúnias gravíssimas sem que haja qualquer resquício de factos que comprovem as acusações.
A última pessoa a ganhar com esta demissão é, precisamente, José Sócrates. A decisão de demitir Manuela Moura Guedes, que conduzia um programa em que se praticava muita coisa, mas não jornalismo, muito menos jornalismo de investigação, é da competência da administração da empresa. Manuela Moura Guedes até já tinha afirmado que se a nova administração a demitisse era muito estúpida. Por coincidência Manuela Moura Guedes tinha uma reportagem fantástica sobre o caso Freeport.
Claro que jamais utilizaria a História para comparações abusivas com a realidade actual. Sou atenta ao contexto.
O presidente de todos os portugueses, que nunca se engana mas que aparentemente teve muitas dúvidas sobre as capacidades das mulheres e sobre os motivos (fúteis) que as levam à decisão por uma IVG, voltou a ter dúvidas aquando da promulgação de um diploma que diz respeito à chamada «moral e bons costumes».
Desta vez, querendo quiçá dar uma ajudinha nas escolhas eleitorais que se avizinham, Cavaco, em vez de apenas endereçar recados e recomendacões descabidas acerca da aplicação de uma lei da nação, que por acaso até fora aprovada em referendo, resolveu rejeitar, sem pejos mas com muitos moralismos, o Decreto n.º 349/X, legislação francamente inócua como refere o Eduardo, que pretendia alterar a lei das Uniões de Facto.
Não sei se Cavaco pretende acabar com a pouca vergonha de a esmagadora maioria dos portugueses optar por se «amancebar» em vez de casar, mas os argumentos com que justifica a sua decisão de não promulgar o diploma, no mínimo tão ridículos como as recomendações moralistas no caso da lei do aborto, apontam nessa direcção. Ou seja, sob o pretexto de estar muito preocupado com os desejos dos que não optaram pelo casamento, o presidente parece considerar que só são dignos de protecção jurídica os casais que decidam (ou possam) viver em comum sob os auspícios de um papel passado no notário. Diria aliás que a chave da rejeição se encontra neste último parênteses...
Ou muito me engano, ou a manchete de hoje do Correio da Manhã vai dar o tom da campanha que aí vem — Espiões alastram nos serviços públicos. Afinal, o que é que se passa?
Ler mais aqui.
... permitam-me!... hoje é um dia especial. Morreu Raul Solnado. O seu significado para o povo português transcende todos os considerandos... a minha homenagem fica AQUI.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
As imagens criadas pelo autor João Coisas apenas poderão ser utilizadas em blogues sem objectivo comercial, e desde que citada a respectiva origem.