A entrevista de Louçã ao Público é deveras esclarecedora: «Sou socialista. E sou contra o capitalismo. O socialismo em Portugal, para nós, é um projecto anticapitalista, com todo o gosto pelas palavras e com toda a clareza.» O coordenador do BE, doublé de grande federador da esquerda, quer partir o PS ao meio. A parte boa ficava com ele. Os outros fizessem o que quisessem. A política deve ser reconfigurada à imagem do Die Linke alemão, afirma. Caso contrário acabamos como a Itália.
Discurso directo: «Para mim é sempre inexplicável como é que um país como a Itália pode ter um senhor como Berlusconi a federar a direita italiana.» Pois a mim parece-me de meridiana clareza... Se, a pretexto de ódios fulanizados e de interesses corporativos continuarmos a votar contra em vez de o fazer a favor de, acabaremos com uma versão indígena de Berlusconi. É muito simples. Ao contrário da lenda, a história repete-se sempre.
Um pouco mais à frente, rejeitando a política de terra queimada, diz que «dar a Ferreira Leite e a Paulo Portas o governo era o mesmo que pôr Dias Loureiro à frente do Banco de Portugal.» E remata: «o PSD é um partido tentacular de negócios que foram protagonizados pelos seus maiores. Foi a estrutura essencial da governação cavaquista que fez o negócio do BPN.»
Trata-se, portanto, de reconfigurar a esquerda, de modo a incluir «quem, na altura, fizer parte de uma grande confluência por um programa político que responda ao país.» Ficção por ficção, mais depressa veríamos um governo de iniciativa presidencial, com Eduardo Catroga (PM), Alexandre Relvas (adjunto do PM), Medina Carreira (Finanças), Bagão Félix (Segurança Social), Rui Machete (Justiça), Miguel Cadilhe (Economia), João Carlos Espada (Educação), João Lobo Antunes (Saúde), Marcelo Rebelo de Sousa (Defesa), Joaquim Aguiar (Administração Interna), Martins da Cruz (Negócios Estrangeiros), António Carrapatoso (Obras Públicas), António Borges (Reforma do Estado), Miguel Frasquilho (Agricultura), Maria José Nogueira Pinto (Cultura), Paulo Rangel (Assuntos Parlamentares), etc. E o Nuno Melo à frente do Banco de Portugal, pois claro! Ficção, naturalmente. O pior é que o voto fútil transforma quase sempre a ficção em realidade.