[Depoimento de Pedro U. Lima *]
Lembro-me de, adolescente, no meio de discussões políticas mais ou menos inflamadas com os meus amigos – faço notar que fui adolescente na segunda metade dos anos 70 em Portugal – sempre defender que o grande problema de Portugal era o enorme atraso do nosso povo, em termos de formação e literacia, relativamente aos outros países da Europa (Ocidental e Oriental). Certamente terei registado algumas alterações das minhas posições políticas de então para cá, mas esse princípio básico continuou sempre a ser o que mais as influenciou. Naturalmente, sempre me interessei por saber o que defendiam os vários partidos relativamente à Educação (básica, secundária e superior) e, em anos mais recentes, quando o Partido Socialista trouxe a Ciência para o primeiro plano, pela Investigação e Inovação.
Evidentemente, outras áreas são certamente fundamentais, como a Saúde, a Justiça ou as Finanças, mas para mim a aposta na Educação é a mais fundamental das apostas nacionais. O nosso atraso, em termos de percentagem de licenciados, ou de número de jovens que concluem o ensino secundário, ou da simples capacidade de preencher um formulário, é tão grande, que muitos dos nossos perenes problemas têm nele profundas raízes: a dependência do Estado para resolver os problemas através de subsídios, o mau funcionamento generalizado das repartições públicas (e de muitas instituições privadas), a baixa eficácia dos nossos trabalhadores, a falta de visão dos nossos empresários, a bur(r)ocracia reinante, o baixo nível cultural da população, a valorização da imagem relativamente ao saber, televisões com programação de nível rasteiro, e muitos outros. Como consequência, a Justiça não funciona, a Saúde tem problemas básicos, o país não tem saúde financeira, porque não produz o suficiente, nem inova para competir e ser melhor que os outros países de nível de riqueza semelhante.
Tanto quanto é do meu conhecimento, o actual governo foi, desde o 25 de Abril, o primeiro a colocar a Ciência, a Inovação, e a Educação, como a prioridade número 1 de Portugal. Reduziu-se o orçamento de todos os outros ministérios para aumentar o da Ciência. Floresceram o empreendedorismo e as empresas tecnológicas inovadoras (não apenas as que compram feito para vender e fazer lucro – típicas fontes de milionários portugueses ao longo dos tempos), aumentaram as bolsas de estudo universitárias, os doutorados contratados nas universidades (muitos deles, como aliás os bolseiros, provenientes do estrangeiro, de onde foram atraídos para Portugal), reformou-se de forma profunda e avançada o sistema de ensino universitário, procurou-se – ainda que com grandes resistências corporativas – fazer o mesmo no básico e secundário.
Prosseguir esta caminhada, não a deixar retroceder, é um imperativo nacional. São apostas a médio e longo prazo, cujo impacto não se vê ao fim nem de uma nem de duas ou três legislaturas, mas que acabarão por ser fundamentais para mudar a cara do país e fazer das suas gentes um povo culto, que sabe resolver os problemas básicos, ter iniciativa e pensar pela sua cabeça, que prefere governantes que decidem sobre assuntos fundamentais com bases científicas e não em função de “impressões” ou referendos de ocasião. Não vejo mais nenhum partido que coloque a Ciência e a Inovação, a par da Educação, como prioridade nacional. Isso basta-me para ultrapassar um ou outro erro de governação, ou execução de medidas, e para não ter dúvidas sobre em quem votar nas próximas Legislativas.
* Pedro U. Lima
Professor no Instituto Superior Técnico
Investigador no Instituto de Sistemas e Robótica