A decisiva aposta do actual governo nas energias renováveis revela uma visão estratégica e um sentido de oportunidade que podem conduzir à alteração do paradigma energético português nas próximas décadas. Esta decisão abre caminho a um vasto conjunto de oportunidades a nível económico, social e ambiental cujo bom ou mau aproveitamento terá consequências profundas e duradouras na sociedade portuguesa.
O investimento em energias renováveis permite aumentar a segurança de abastecimento, reduzir a importação de energia do estrangeiro, aliviar o défice da balança de pagamentos, e reduzir a exposição à volatilidade de preços dos recursos não renováveis.
A diversificação inerente à promoção das energias renováveis cria condições para o desenvolvimento de um cluster tecnológico de futuro, capaz de gerar emprego qualificado e com elevado potencial exportador. Enquanto a descentralização da produção que está associada às energias verdes possibilita que a criação de emprego e a geração de riqueza sejam repartidas de forma mais homogénea pelo território nacional.
O apoio às energias renováveis deverá ser gerido criteriosamente, de forma a evitar a criação de rendas desnecessárias em tecnologias verdes já competitivas, que venham a onerar excessivamente o contribuinte ou o consumidor. Incentivando também a inovação, pesquisa e desenvolvimento em áreas emergentes como a biomassa ou a energia geotérmica.
Apesar do entusiasmo com as energias renováveis é fundamental agir com a mesma determinação no combate ao desperdício, na promoção da eficiência energética e na gestão da procura. É crucial agir ao nível da alteração de comportamentos dos consumidores, o que só é possível se se compreender bem a dinâmica da procura, agindo sobre ela em vez de a tomar sistematicamente como um dado rígido ao qual a oferta continuamente se ajusta.
Vencer o desafio energético aproveitando integralmente o potencial das energias renováveis exige uma estreita articulação das políticas de energia, urbanismo e transportes. A adopção de soluções de mobilidade suave, híbrida e eléctrica terá porventura ainda maior impacto ao nível energético que as energias renováveis.
Não basta inovar tecnologicamente, é essencial mudar hábitos e comportamentos insustentáveis enraizados há décadas na sociedade portuguesa. A promoção de tecnologias, equipamentos, edifícios e meios de transporte mais eficientes, e a adopção de hábitos mais sustentáveis são passos fundamentais rumo à indispensável redução da intensidade energética da nossa economia, garante de competitividade internacional e de crescimento sustentável.
Artigo Publicado no Diário Económico.