A estratégia do PSD para as legislativas só tem plano A: concentrar o poder nos mais fieis, tolerar uma aliança julgada impossível com o candidato a Lisboa, abrir uma pequena janela florida para a sua direita e compensar alguns bons nomes da irreflectida expulsão do Parlamento Europeu. Pelo meio rompe com outros apoios, indispensáveis a quem pretende o poder. Alguns dos que trabalham no terreno.
Tudo bem, se o PSD for o partido mais votado. Na noite eleitoral juntar-se-lhe-iam os agora descontentes e nas semanas seguintes todos os ansiosos do poder, ficando de fora apenas uns tantos, poucos, a lamber feridas. O acordo com o CDS seria rápido e se a união lograsse ser maioritária teríamos a reedição do cenário que Sampaio solicitava nos idos de Junho de 2004. Os protagonistas seriam os mesmos, o Povo já os conhece. Se ainda os respeita, é outra coisa. Teriam pelo menos lugar garantido até Setembro de 2011. O que difícilmente teríamos era o mesmo Presidente. A esquerda de maioria aritmética que não política, encurralada, romperia o cerco escolhendo um candidato comum, que fizesse coincidir a aritmética com a política. Governo de coligação de direita, Presidente de coligação de esquerda, daria pólvora.
Mas pode bem acontecer que o PSD seja o mais votado e não consiga maioria com o CDS. Se o Presidente o encarregasse de formar governo, sem garantias de pelo menos a abstenção de dois partidos à esquerda, o projecto dificilmente passaria e a criança governo saltaria para o colo presidencial.
Restaria sempre o famigerado bloco central. Mas com que autoridade se bateria por ele o Presidente, visto como uma segunda escolha? E com que respeito seria ele acatado pelos excluídos? A partir daí, os cenaristas perdem-se no nevoeiro, até mesmo na tempestade.
Tamanho esforço de romper com a oposição interna (Plano A) pode não lograr o reconhecimento do eleitorado, na muito provável hipótese de o PS ter mais votos. Com um PSD minoritário, empobrecido, encostado à direita. Onde está então o Plano B? A liderança seria questionada de imediato e provavelmente cairia em semanas, roída pela crítica interna. A esquerda agradeceria e também o Presidente, cuja margem de manobra actual se alargaria e a perspectiva de reeleição se confirmaria.
Concluindo, à Drª Manuela Ferreira Leite não resta outro futuro político que não seja levar o PSD a ser o partido mais votado. Mas para o obter dos Portugueses tem de dizer ao que vem, o que lhes oferece. Por enquanto só tem rostos, por sinal quase os mesmos do desastre de 2004-2005. Falta-lhe um programa, que termine com a nebulosa actual, a esconder opções que parecem crueis, mesmo que envergonhadas. Venha o programa.
António Correia de Campos, in Diário Económico