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SIMplex

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24
Set09

Dos bons e maus usos da Utopia em política

João Galamba

(Texto da autoria de Gonçalo Marcelo, doutorando em Filosofia na Universidade Nova de Lisboa)

 

Nenhum político pode aspirar à melhoria real da sociedade de cujos destinos se encarrega se considerar o exercício do poder como sendo a manutenção do status quo. Em certo sentido, um bom político tem que ser optimista, é certo, mas também insatisfeito; deve sentir em si a força motriz do progresso, da mudança em direcção a algo de melhor. E deve lutar por isso. Talvez seja esta mistura de confiança e optimismo, mas também de insatisfação e capacidade de luta, aliada aos dons naturais de comunicação que faz com que Obama seja o incrível político que mostra ser.

 

É nesse sentido que a política tem de ser, até certo ponto, utópica – isto é, tem de poder ser atraída pela possibilidade do diferente, pela representação do melhor, que é remetido para um tempo futuro mas que, em última instância, só pode ser obtido através da acção no presente.

 

Certos utópicos constroem sistemas de ideias perfeitas, ou escrevem sobre cidades que realmente não têm lugar. Por vezes, desiludidos com a distância que vai do aqui e agora até à projecção imaginada, desistem da realidade, fogem perante as dificuldades empíricas. Esta é a lógica do tudo ou nada, que a nada mais corresponde que a uma contaminação da realidade pela hipérbole do ideal. É uma má utilização da utopia, que corresponde a uma lógica de fuga. A utopia produtiva, se assim lhe quisermos chamar, é como uma ideia reguladora. Não tem de existir para produzir efeitos. E não tem de ser absolutamente obtida, em todos os seus contornos de projecção ideal, para que nos aproximemos o mais possível dela.


A utopia tem por função abalar a ordem estabelecida. Todavia, nunca o faz de um só golpe, nem nunca se chega imediatamente onde se quer chegar. Pelo contrário, ela requer um esforço constante. De certa forma, a utopia tem de estar sempre a ser realizada. E, como bem mostrou Paul Ricœur, não se pode eximir da responsabilidade do exercício do poder. É essa a diferença entre a esquerda responsável do Partido Socialista e os movimentos à esquerda do PS, cuja vocação de protesto impede a participação activa na verdadeira transformação.

 

O caminho para a utopia também pode ser o da reforma contínua, em direcção a um melhor futuro. Como é óbvio, os interesses estabelecidos e as forças conservadoras reagem. Mas é exactamente nessa medida que a política utópica e o político corajoso deve reagir com a força da sua convicção.

 

Por ideais como uma maior igualdade e um Estado efectivamente social, o PS deve voltar a ser eleito. A Direita deve ser derrotada, uma vez mais. Como diria Obama: nós somos aqueles por quem temos esperado.


 


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