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SIMplex

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31
Ago09

em defesa da escola pública

Porfírio Silva

 

João Rodrigues escreve hoje, na sua habitual crónica no quotidiano i, que o recente alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano (uma medida de esquerda, reconhece), pode ser posto em causa pelo desvirtuamento da escola pública. Nesse desvirtuamento envolve o actual governo socialista. Trata-se de uma nova moda: como se tornou impossível esconder as políticas de esquerda do actual governo, ataca-se de cernelha. Assim: as medidas tal e tal até são de esquerda, mas, na falta de outras medidas x e y, estas afinal não são bem de esquerda.

Ora, mesmo à primeira vista, o artigo de João Rodrigues (que muitas vezes escreve coisas muito pertinentes) tem vários vícios lamentáveis.

Primeiro, parece ignorar o enorme investimento político (e material) feito por este governo na escola pública. Em muitas áreas, uma aposta sem precedentes: aulas de substituição como princípio de um reforço da oferta; concretização do princípio da escola a tempo inteiro; reestruturação da rede do básico; modernização do parque escola; generalização do ensino do inglês, da música e da actividade desportiva no 1º ciclo; reforço do ensino artístico; alargamento do acesso à acção social escolar; forte desenvolvimento do ensino profissional. Exemplos, apenas. Exemplos do fortíssimo investimento deste governo na escola pública. Tudo isso é passado em branco.

Segundo, o artigo de João Rodrigues cede à tentação do imediatismo eleitoral fácil. Quando diz que o modelo de avaliação dos professores faz parte de um ataque à escola pública. Podem ter-se variadas opiniões sobre o modelo que em concreto foi proposto, o qual, certamente, não é perfeito (como nada na vida é perfeito). Mas esquecer que a avaliação do desempenho docente, e que essa avaliação deve ter consequências, é um elemento central de uma política de promoção e defesa da escola pública – é um esquecimento demasiado grave. O “deixar andar” é que seria conveniente para os que esperam que a escola pública arraste os pés – para deixar espaço crescente aos privados. Repito: qualquer que seja a opinião sobre esta avaliação, não é sério meter essa iniciativa na gaveta do ataque à escola pública.

Terceiro, João Rodrigues, para promover a escola pública, propõe acabar com o financiamento (directo e indirecto) ao ensino privado. Aqui temos uma amostra excelente da insensibilidade social das opiniões pretensamente radicais. Saberá o autor do artigo o que isso significaria, por exemplo em termos da oferta de ensino profissional? Ou em termos de oferta educativa para sectores com necessidades específicas, por exemplo deficiências? E, já agora, abrangeria também o ensino cooperativo nessa “expulsão”? E tem a noção do que isso significaria para milhares de famílias? Ou isso não interessa nada à sua “cruzada”?

Este texto de João Rodrigues é um bom exemplo de quão inquinados andam os debates à esquerda. Talvez o PS se tenha distraído mais do que o aconselhável de certas preocupações a que dão voz outras forças de esquerda. E até uma interessante esquerda académica que por aí anda. Mas a ligeireza com que certos pensadores, que se pretendem da esquerda da esquerda, atiram para cima da mesa com distorções da realidade e com versões mal embrulhadas de velhas tentações de engenharia social – mostra que essa “esquerda da esquerda” tem ainda de fazer um esforço de concentração no real. Porque o real nunca é tão simples como as tentações ideológicas querem fazer crer. Por muito necessárias que sejam as ideologias. Que são.

 

(também aqui)

31
Ago09

A star is born (sacado ao Valupi)

Rogério Costa Pereira

"Não gosto dos meus pés."

 

Carolina Patrocínio continuando a condicionar a campanha da oposição

*

Uma entrevista dada ao programa Alta Definição, cuja banal lógica é a de revelar aspectos privados e anedóticos das celebridades, levou a Carolina para uma candura que se tornou alvo de aproveitamento político. Diga-se que seria impossível escapar, porque o tema dos caroços, da empregada e da batota é demasiado sumarento e lúdico para não ser usado nos ataques a Sócrates. Até no PS se deu espaço à distorção e aos preconceitos. Agora, surgiu a notícia de que teria sido aconselhada a não dar entrevistas. Tendo em conta que é o Público a servir a informação, tem menos credibilidade do que a minha vizinha do 4º andar. Mas pode muito bem ser verdade, o seu silêncio vai nesse sentido. Se for, a pessoa que lhe deu o conselho tem de tirar férias em Setembro e só voltar em Outubro. Porque este é o melhor momento possível para a Carolina falar.

Ver mais... )

31
Ago09

Direitas com e sem programa

Carlos Manuel Castro

O maior partido da oposição é o PPD, e aspira a governar, faz de conta que tem uma espécie de programa de Governo. O partido mais pequeno da oposição de direita, o CDS, que não tem as mesmas capacidades nem a mesma base de apoio do maior partido da direita nacional, o PPD, tem um programa. Como se percebeu do que ontem foi anunciado por Paulo Portas em Tomar.

 

Será que o PPD, que pretende liderar Portugal, e a governar só o deveria conseguir com o CDS, seguirá as linhas mestras de Paulo Portas... que tanto critica o PS, como, de certo modo, o PPD?

 

O debate entre Ferreira Leite e Paulo Portas será merecedor de atenção, uma não sabe ao certo o que propõe, o outro sabe o que não quer.

 

31
Ago09

As tartarugas de Louçã

Hugo Mendes

No seu Evolution for Everyone, D.S.Wilson conta a certa altura a seguinte história:

 

«De acordo com a lenda, Wiliam James (o famoso psicólogo) foi uma vez abordado depois de uma aula por uma mulher de idade avançada que partilhou com ele a sua teoria de que o planeta Terra está apoiado nas costas de uma tartaruga gigante. Gentilmente, James perguntou-lhe em que se apoiava a tartaruga. “Uma segunda tartaruga ainda maior!”, respondeu ela com confiança. “Mas em que se apoia a segunda tartaruga, continuou James, na expectativa de mostrar o absurdo do argumento. A mulher afirmou de modo triunfal: “Não há saída, Mr.James – são tartarugas até ao fim!”» (p.133)

 

Esta pequena história faz-me lembrar aquela que parece ser a estratégia política de Francisco Louçã para o país. Primeiro, espoliamos os ricos. O que fazer depois? Continuamos a espoliar os ricos – desta vez, aqueles que são mais ricos que os primeiros, porque escaparam à primeira leva. O que fazer depois? Bom, depois vamos atrás dos ainda mais ricos – as tartarugas maiores – que conseguiram fugir….And so on.

 

31
Ago09

(post-it 24) Bumerangue

João Paulo Pedrosa

Um dos parvenu de Manuela Ferreira Leite questiona, e bem, o caminho de cedências civilizacionais, em alguns países europeus acossados com o predomínio de valores conservadores, de pendor religioso e moral, na organização da vida social. Nem de propósito, aspalavras de MFL hoje, no encerramento de um comício partidário, têm nele um efeito de bumerangue.

Cito:
"Talvez o crescimento dessas coisas, sob o olhar compreensivo dos nossos tolerantes cosmopolitas, devolva aos europeus (portugueses) o gosto pela liberdade e, sobretudo, o respeito por ela".
Nem mais!
30
Ago09

É este o homem?

Leonel Moura

Tive a paciência de ouvir o discurso de Francisco Louçã na rentrée do Bloco. A grande maioria do tempo foi ocupado com historietas a casa de banho de Loureiro, os contentores de Alcântara, os milhões desbaratados do BPN, a venda da casa de Damásio, as parvoíces da Nogueira Pinto, enfim. É este o homem que vai reconstruir a esquerda em Portugal? Um entertainer? Um cómico político?

De ideias ficou o ódio aos ricos e a defesa dos pobres. É pouco. Infelizmente Portugal tem muita miséria, mas felizmente é muito mais do que isso. O país real não é só pobreza, é sobretudo, na sua maioria, uma sociedade avançada que quer mais, melhor e evoluir positivamente.

Na minha modesta opinião o Bloco só é efectivamente concorrencial com as Misericórdias. Até no linguajar de seminarista de Louçã.

30
Ago09

A galinha dos ovos de ouro...

Ana Paula Fitas

Impressiona a facilidade com que o BE recorre à mais gratuita demagogia, lembrando os que, identificados com a direita mais populista, acenam bandeiras de facilitismo ilusionista... refiro-me a uma das medidas que o Bloco propagandeia, alto e bom som, como se fosse uma medida mágica de resolução de um dos problemas estruturais da sociedade portuguesa: taxar as fortunas como forma de angariar dinheiro para aumentar as pensões e sustentar a Segurança Social... Sejamos objectivos!... Se é justo, como aliás o defende também o PS, proceder a um cálculo mais justo dos impostos em função dos rendimentos, não podemos sequer imaginar que, nesse procedimento reside, a solução para o problema! Porque os ditos "ricos" não são a galinha dos ovos de ouro dos portugueses! Não, não são! E só o pode imaginar quem não conhece o país onde vive e ignora o cenário concreto da dimensão económico-financeira que o sustenta! Somos um país pequeno e pobre... negá-lo é ser incapaz de enfrentar a realidade e, consequentemente, não estar em condições de criar propostas que lhe sejam adequadas. Quantos ricos temos? Quão ricos são? Por quanto tempo o serão? ... responder a estas três perguntas permite-nos ter a noção exacta do irrealismo da proposta do Bloco... porque alguém duvida que, a aplicar-se uma tal medida à sociedade portuguesa, os potenciais contribuintes deslocariam o seu património para onde a sua penalização não fosse o bode expiatório de uma sociedade cujo problema é, antes de mais, o do emprego e da revitalização do aparelho produtivo? ... O pior que se encontra nos arautos da virtude é levarem tão longe a sua demagogia, ao ponto do seu horizonte ser um espaço que não corresponde a território algum... na verdade, adoptar levianamente uma tal medida apenas contribuiria para, algures, num qualquer paraíso fiscal, fazer crescer as off-shores...