A entrevista de ministra da educação ao Diário Económico
"Acho que as pessoas têm dificuldade em enfrentar o conflito. Todos temos, eu também tenho as minhas. Ninguém gosta. Ninguém se orienta para procurar uma guerra. As pessoas orientam-se por determinados objectivos e por vezes no caminho encontram-se grandes dificuldades que são a resistência, a manifestação de discordância. E há muitas formas de lidar com isso, a mais fácil é desistir. E a vida é muito mais tranquila quando não se faz nada. Sobre a crítica de que é possível fazer de maneira diferente. Isso é verdade, é sempre possível, mas quem o diz nunca aponta como que faria, nunca diz qual seria a metodologia"(...) "todos os partidos estão a comprar a paz com os professores por um preço que o país não pode pagar"
O Nuno Gouveia (tres)leu a entrevista da ministra da educação ao DE (entrevista online incompleta) e acha que se trata de uma declaração de guerra. Está enganado. Maria de Lurdes Rodrigues nunca disse que o seu objectivo era a guerra com os professores. Aliás, disse exactamente o contrário. A "guerra" é uma consequência de se ter procurado introduzir transformações profundas na educação, nomeadamente a avaliação e o novo estatuto da carreira docente. Uma prova disto é que nas áreas onde não se mexia com o estatuto dos professores as medidas do actual governo mereceram o acordo das principais estruturas sindicais: "o que é facto, não posso ser injusta para a FNE, sobretudo nos períodos em que lançámos as aulas de substituição, em que encerrámos escolas, houve de facto uma vontade de apoiar medidas de política reconhecidas pelos dirigentes sindicais, como medidas importantes para o sistema educativo. Eram medidas que não afectavam o estatuto profissional dos professores, e houve uma aproximação, uma vontade de colaboração. Mas nas matérias relativas ao estatuto, tivemos muitas dificuldades de negociação". Ou seja, o PS avançou com uma agenda reformista ambiciosa — e inédita em Portugal — que só teve oposição quando mexeu com os previlégios de uma classe profissional. Importa recordar que: quando se reforma "há sempre movimentos resistência (...) a minha primeira reacção a essas afirmações é sempre perguntar em que se baseiam, quais os factos, qual a prova? (...) Por vezes é preciso fazer reformas contra determinados interesses, quando as reformas são contra interesses específicos, em defesa de outros". A paz será cara porque depende do sacrífício de toda e qualquer agenda reformista. Sejamos claros: a paz não depende de outro modelo de avaliação; a paz depende apenas de não existir qualquer modelo de avaliação, mantendo os previlégios actuais intocados.
A ministra também disse que para criticar é necessário propor diferente. Mas as posições dos partidos da oposição têm variado entre o puro oportunismo político PSD e CDS) e a total ausência de espírito reformista (BE e PCP). De uma maneira ou de outra, todos mantêm o status quo, isto é, pactuam com os interesses actualmente existentes. Ao contrário do que diz o Nuno Gouveia, não é o PS que declara guerra aos professores; é a oposição que capitula perante o interesse de uma classe, sacrificando o interesse nacional. e a possibilidade — presente e futura — de toda e qualquer agenda reformista. Olhando para o PSD, vemos um partido que se diz reformista a intrumentalizar o descontentamento de uma classe para obter benefícios políticos de curto prazo. Ou seja, o PSD opta (oportunisticamente) pela paz como objectivo último da sua política, independentemente dos custos a longo prazo para a educação e para o país. Em vez de propor alterações às medidas do PS, mantendo uma lógica reformista, o PSD preferiu ficar ao lado do coorporativismo e do sindicalismo mais reaccionário da Europa. E tudo por causa de um oportunismo eleitoral irresponsável. Assim se vai sabendo o que o PSD entende por Verdade.