Eu percebo muito bem a intenção do realizador. Não havia ruga, veia, movimento do olhar que não enchesse o ecrã, e o mais cruel dos planos escrutinava aquele rosto para lhe mostrar a fragilidade. É o mais violento dos olhares que a televisão é capaz, aquele que não permite que nada escape, que desapareça toda a reserva do corpo na sua parte mais exposta, a face. Aquele plano era todo um programa, tinha como objectivo mostrar uma mulher velha e cansada, com rugas, com o tempo na cara. Mostraria o mesmo em quase toda a gente, menos nos modelos de plástico que passam por homens e mulheres e que nasceram ontem com a pele limpa dos bebés. Mas não era toda a gente que estava ali, era Manuela Ferreira Leite. Aquele grande plano, excessivo e brutal, é todo um programa, insisto. Não há inocência.
Há uns meses atrás Pacheco Perreira desferiu este violento ataque à RTP por ter feito uma entrevista a MFL abusando, na sua interpretação, do grande plano de imagem. Ora, quem viu a entrevista da semana passada, pode constatar que a prevalência dos grandes planos se manteve. Estranho, Pacheco Pereira desta vez não disse nada. Alguma coisa mudou, de facto, mas não foi, seguramente, a realização e, Pacheco, consta que também não muda.