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SIMplex

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21
Ago09

Notas sobre o "poder socialista"

Hugo Mendes

O André Abrantes Amaral respondeu à minha interpelação.

Agradecendo, encurto o comentário que deixei lá na caixa de comentários, dividindo-o igualmente em quatro partes que correspondem às suas respostas:

 

(1) Essa distinção é artificial, a-histórica, e ignora as assimetrias de poder num dado momento - e, por isso, as oportunidades objectivas de sucesso - entre os indivíduos e/ou empresas. Mas não respondeu à questão da justiça no comércio internacional.
 
(2) Essa resposta é muito interessante: o André fica radiante como consumidor; mas duvido que ficasse se a sua vida dependesse das empresas do país que são incapazes de concorrer porque as tais outras empresas foram apoiadas pelos outros Estados.  
 
(3) “Deus”? “Omnisciente”? Estou a falar de uma falha de mercado, for God’s sake. É extraordinária a incapacidade para assumir que ela, como outras, existem. A única posição que se aproxima da religiosa é a sua posição que assume que o mercado nunca falha. Como, deixe-me acrescentar, o Estado falha. Bem-vindo à economia real!: o Estado falha e o mercado falha, cada um em situações em contextos diferentes. O defendo não se baseia em nenhuma adesão a-crítica a uma ideologia "socialista" ou outra. Sou pragmático e experimentalista: as políticas que são boas, adoptam-se; as que são más, abandonam-se. O que importante é encontrar o policy mix eficaz e coerente. E para lá chegarmos temos que experimentar um pouco, aprender mais, e receber inputs de vários agentes, em particular aqueles do sector privado, que conhecem o mercado. Aqui o Estado precisa da cooperação e do conhecimento específico destes.
 
(4) "Por que motivo vamos cobrar impostos para financiarmos empresas quando a redução desses mesmos impostos já seria ajuda suficiente?"
 
O André parte do principio que seria suficiente do ponto de vista da orientação do investimento e do incentivo que se pretende dar, que é à exportação. Já agora, não falei em aumento de impostos; se se baixar os impostos às empresas exportadoras como forma de incentivo já concorda? Limito-me a recordar, apenas, que isto é uma espécie de “proteccionismo” velado.

 

20
Ago09

Justiça

Hugo Mendes

O André Abrantes Amaral escreve:

 

«Qualquer ajuda do Estado a uma empresa, pressupõe o prejuízo de outra empresa e dos cidadãos. Quer através de impostos, quer criando e incentivando concorrentes que só se podem apelidar de desleais.»

 

Gostava de perceber porque é, para aqueles que dizem que a justiça social entre indivíduos é uma "miragem", são os primeiros a invocar a princípio de justiça quando se trata de concorrência entre empresas. 

 

E já agora, no mercado internacional liberalizado, uma empresa norte-americana (ou inglesa, ou japonesa, ou francesa, ou alemã) que durante décadas recebeu apoios públicos e que entra por um pais cujas empresas vivem com a corda na garganta e não têm 1/100 das capacidades organizacionais, humanas e financeiras das empresas das primeiras,conseguem explicar-me onde está a justiça?

Ou no comércio internacional a justiça deixa de ser uma preocupação para os liberais? 

 

São dúvidas genuínas, reforço.

20
Ago09

Ainda sobre o proteccionismo e as políticas públicas de inovação

Hugo Mendes

Este debate entre o João Galamba e o Tomás Belchior é muito bom, e apesar de não ter muito tempo para dizer tudo o que me lembro, vou meter a minha colherada. O Tomás escreve:

 
 
O Tomás Belchior acredita demasiado – é fé mesmo - nos manuais de economia e nas virtudas mágicas do mercado. Se há uma área que não funciona como nos modelos mais elementares é a da inovação. É que se o Tomás quer fazer que a inovação funcione segundo os manuais de economia pode, por exemplo, começar por acabar com as patentes, que instituem monopólios temporários e restringem a competição – e, pelo que sei, os monopólios são coisas "más".
 
 
19
Ago09

Mas afinal quem são os proteccionistas e quem são os internacionalistas?

Hugo Mendes

O PS propôs um pacto para a internacionalização das empresas portuguesas. O país precisa de exportar mais e ganhar competitividade através da produção dos bens transaccionáveis.

 

A grande prioridade do PSD, já se vê, é abrir os serviços públicos ao sector privado. A prioridade não é obrigar os grandes (e não tão grandes) grupos portugueses a mostrar o que valem lá fora. Não: o que interessa é abrir-lhes mercados altamente protegidos, como os das áreas da saúde ou da educação, onde possam fazer dinheiro fácil.

 

E não me venham com os clichés da "esquerda proteccionista" e da "direita que privilegia o risco". Nos dias que correm, não há estratégia mais proteccionista do que a que o PSD advoga.

 

Só me apetece parafrasear o João Rodrigues: «vão trabalhar para os sectores exportadores, malandros»!