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SIMplex

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01
Set09

Vacuidades e a arte de não se comprometer com nada

João Galamba

Neste último post, entre outras coisas, critiquei a posição do PSD em relação à avaliação dos professores, acusando-o de ter comprometido toda e qualquer política reformista por razões de puro oportunismo eleitoral. O Joaquim Amado Lopes contesta o meu post citando uma passagem do programa eleitoral do PSD: "Afirmaremos a necessidade da existência de um processo de avaliação dos professores e da sua diferenciação segundo critérios de mérito.Suspenderemos, porém, o actual modelo de avaliação dos professores, substituindo-o por outro que, tendo em conta os estudos já efectuados por organizações internacionais, garanta que os avaliadores sejam reconhecidos pelas suas capacidades científicas e pedagógicas, com classificações diferenciadas tendo por critério o mérito, e dispensando burocracias e formalismos inúteis no processo de avaliação".

 

Esta passagem não cola com a posição — oportunista e irresponsável — do PSD face às manifestações dos professores. O problema do PSD é o de não ter percebido — ou melhor, ter fingido que não percebeu — que a posição dos professores nunca visou o(s) modelo(s) de avaliação proposto(s) pelo PS; o alvo foi — e será sempre — todo e qualquer modelo de avaliação que procure instituir princípios de meritocracia que avaliem e premeiem os melhores professores. O PSD pode colocar o que quiser no seu programa. A irresponsabilidade de se ter colocado ao lado dos professores valerá sempre mais do que mil palavras.

29
Ago09

DOIS ANOS, DIZ ELE

Eduardo Pitta

Falando hoje na Universidade de Verão do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que o programa eleitoral do partido é um documento «plausível». A parcimónia dá a medida do entusiasmo. Mas o melhor veio a seguir, quando afirmou que se trata de «um programa para as eleições de 27 de Setembro, mas [também] um programa que eu acho que me parece pensado para a hipótese possível, plausível, de sair um Governo minoritário e de haver novas eleições dois anos depois.»

 

Das duas uma: Marcelo não acredita na vitória do PSD, antevendo um governo do PS que caia com a gritaria da rua (no limite do prazo constitucional de dissolução da Assembleia da República por Cavaco, factor que encurta o prazo para menos de dois anos); ou Marcelo não acredita na capacidade de Manuela Ferreira Leite se aguentar mais de dois anos.

 

Pode haver uma terceira possibilidade: sem o dizer abertamente, como disseram, com diferente grau de convicção, João de Deus Pinheiro, Pina Moura e até Paulo Mota Pinto [«Não excluo nenhuma hipótese»], Marcelo pode estar a apostar numa solução do tipo Bloco Central, hipótese muito útil para apanhar os cacos da débâcle (BPN, BPP, etc.) financeira.

23
Ago09

Internacionalização e incentivos

Hugo Mendes

As discussões a quente têm sempre o risco de nos fazerem desviar do essencial. Aquela que nos últimos dias foi mantida com alguns membros do Jamais e da Rua Direita em torno dos benefícios dos subsídios à exportação (e ao desenvolvimento em geral) é muito interessante, mas vale a pena colocá-la no contexto que vivemos e naquelas que são efectivamente as propostas do PS para o tal "pacto para a internacionalização" (que se pode ler aqui entre as páginas 16 e 18).

 

Independentemente da utilidade do instrumento específico do "subsídio" - que eu defendi, nos contextos adequados e com os cuidados necessários -, é mais interessante ver o conjunto de instrumentos de política pública propostos no "Pacto para a internacionalização". É fácil compreender que o que se pretende é criar um quadro com múltiplos mecanismos de incentivo e de facilitação que auxiliem as empresas na procura de mercados internacionais.

 

03
Ago09

Que verdade?

João Galamba

Na mesma semana em que o PS apresentou o seu programa político, a líder do PSD falou de iates, de perseguições aos ricos, e manteve a aposta na Verdade (assim, com maiúscula). Centremo-nos no único ponto passível de discussão: a Verdade. Para Ferreira Leite, a nossa verdade é o endividamento: não há dinheiro para nada e o PS, se insistir na sua política de investimentos, vai levar-nos à ruína. Dito assim, impressiona. Estamos perante uma reedição do discurso da tanga. Mas, e independentemente da nossa avaliação sobre a estratégia de desenvolvimento proposta pelo PS, a verdade, em si mesma, não é nem nunca poderá ser um programa político, pois um programa implica duas coisas: um diagnóstico sobre a situação do país e um compromisso com um plano de acção. Desde Aristóteles que a política é entendida como uma forma de acção, mas Ferreira Leite decidiu inovar e propõe uma alternativa: a resignação e a passividade estóica.

 

Assim não, diz a líder do PSD, sem nunca nos dizer o que fará com tanta e tão assustadora verdade. Pondo de parte a hipótese de auto-flagelação, o que nos resta? Será que Portugal tem de poupar mais? Baixar despesa? Reduzir impostos para estimular a actividade económica? Esperar que o "abalozinho" passe? Não sabemos. Sabemos apenas que, numa recessão onde existe um risco de deflação, isto é, num contexto onde não podemos recorrer à cartilha liberal de que as empresas não produzem porque o Estado não as deixa, nenhuma dessas opções parece fazer sentido. Tirando alguns liberais que já ninguém leva minimamente a sério, o consenso internacional é de que só o Estado pode desempenhar o papel de liderança que a situação exige - e isto requer investimento.

 

A "posição" de Ferreira Leite pode não aumentar o endividamento, mas não faz nada para o reduzir. Podemos evitar o desastre, mas não fazemos nada para alterar o status quo. Reconhecer um facto, parar, repensar e adiar, que eu saiba, não resolve problemas, porque não é agir nem assumir qualquer tipo de responsabilidade perante a nossa situação. O endividamento é um problema que carece de uma resposta política afirmativa. Só há duas soluções para o endividamento: crescimento ou diminuição da despesa, isto é, medidas expansionistas ou pró-cíclicas. De uma maneira ou de outra, algo tem de ser feito. Dado que Ferreira Leite não é liberal, ou seja, não acha que desmantelar o Estado assegura, só por si, crescimento futuro, e tendo em conta que, segundo a líder do PSD, não há dinheiro para nada, tenho alguma dificuldade em perceber o que a sua Verdade quer para Portugal e para os Portugueses.

 

(artigo publicado no Diário Económico)

30
Jul09

Teoria da Conspiração

Rui Pedro Nascimento

Segundo o líder do Bloco de Esquerda "há um programa que não está escrito, um programa secreto" do PS para a próxima legislatura.

 

O que dizer de alguém que tem uma afirmação destas? A única razão que consigo encontrar é que o programa é 'suficientemente' de esquerda para que esta seja a primeira razão que Francisco Louçã encontra para atacar o PS quando lhe perguntam a opinião sobre o programa apresentado pelo PS. Depois lá se recompõe e diz que "na política e na economia, não há mudança nenhuma. E se o PS levar avante este programa, isto quer dizer que o país fica na mesma".

 

Mas fica o registo de que a primeira crítica foi "um programa secreto"...