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SIMplex

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29
Jul09

Sweet eighteen

Hugo Mendes

A medida inscrita no Programa de Governo do PS - anunciada hoje por João Tiago Silveira - relativa à criação de uma "conta poupança futuro" tem merecido a crítica séria e rigorosa a que a direita já nos habituou. Um pouco por todo o lado, tem sido parodiado o efeito que a medida teria sobre a natalidade.

 

Vale a pena, porém, recordar as quatro vantagens apontadas aquando do anúncio da medida. Em declarações à Lusa, João Tiago Silveira «defendeu que esta medida tem quatro "vantagens": "incentiva a conclusão do ensino obrigatório", porque só aí pode ser mobilizada, "incentiva a criação de hábitos de poupança", "permite que o jovem se possa autonomizar" e é também uma "medida de apoio à natalidade"».

 

O apoio à natalidade vem, repare-se, em quarto lugar. Mas isso, para os nossos analistas rigorosos, pouco interessa. Que a medida seja um incentivo à conclusão do ensino secundário; que ela permita ao jovem, uma vez atingidos os 18 anos, ter algum dinheiro para usar em projectos seus; e, sobretudo, que ela incite a família à poupança - tudo isto é olimpicamente ignorado.

 

Convém lembrar aos mais distraídos que a conta pode ser alimentada ao longo do tempo; o valor (que pode facilmente atingir vários milhares de euros) ao fim de 18 anos pode permitir ao jovem uma independência relativa - aquela que hoje está apenas ao alcance dos filhos das famílias com dinheiro e generosidade para lhes proporcionar uma almofada ou um trampolim para a trajectória escolar e/ou profissional futura. Do que se trata é simplesmente de democratizar, uma vez concluído o ensino secundário, o acesso a algum capital.

 

A direita mais iluminada (que ainda acredito que exista), que - para além de elogio da poupança - costuma piscar o olho a ideias como igualdade de oportunidades, formação de capital humano, ou "democracia de proprietários", poderia facilmente reconhecer os méritos desta medida. Temo que, por entre o fartote de piadas, nem isto consiga fazer.

 

P.S. - A inspiração da medida não vem dos "2500 euros de Zapatero", mas dos baby bonds de Tony Blair: todas as crianças que nasceram depois de 31 de Agosto de 2002 no Reino Unido recebem 250 libras (500 libras no caso dos agregados mais pobres). Mais informações aqui: http://www.childtrustfund.gov.uk/

 

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