Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

SIMplex

SIMplex

11
Set09

Os “recuos”

Gonçalo Pires

É muito interessante que o Tiago tenha descoberto uns números. Obrigado Tiago. Ainda bem que o fez. É sempre bom ter oportunidade de discutir o TGV. É me difícil compreender a obsessão deste PSD para com o investimento numa rede de alta velocidade. Meses depois de um choque petrolífero e num contexto económico onde se discute os nossos défices externos e um novo paradigma de energias limpas, porquê tanta teimosia? No entanto, até agora, os argumentos contra TGV tinham intencionalmente esquecido as comparações com outros países Europeus. O Tiago fez-nos o favor de nos lembrar que muitos países Europeus já investiram no TGV. Mais uma vez, obrigado Tiago. Apenas uma pequena correcção. Se Portugal tiver a felicidade de ter 500km de linhas de alta velocidade daqui a 10 anos, não seremos dos países da Europa com mais km de TGV. É que os outros planeiam igualmente investir no TGV, e não porque o achem bonito. Apenas porque será útil e decisivo para o futuro das economias Europeias, tal como reconhece a Comissão Europeia. Daqui a 10 anos a Europa terá 20.000km de TGV o que representa uma expansão brutal da rede. Para comparar Portugal com a Europa daqui a 10 anos convém ajustar os seus números aos planos de investimento de cada país. Um pormenor.

O comentário do Tiago comete outra proeza assinalável. Venera a prudência da Bélgica e da Holanda e compara-a à suposta irresponsabilidade Portuguesa. Ignora o conceito de periferia, ignora a importância da distância como factor decisivo para a competitividade de um País, mostrando igualmente que para o PSD estratégias de desenvolvimento são conceitos abstractos que se aplicam a qualquer país excluindo da análise a especificidade do caso Português. Diz-se que o último Nobel da economia foi atribuído por um estudo que analisa o impacto da geografia como factor de desenvolvimento. Percebe-se que um país que esteja no meio de muitos não precise de muito para ter tudo. Mas mesmo assim, JÁ investiram no TGV. Como diria o Jumento: Louve-se a prudência.

 

 

Cada escolhe o lado para onde quer avançar. Se preferir até podemos parar um pouco para descansar um bocadinho. Convém é não perder de vista o caminho que queremos seguir. Correremos o risco de ficar perdidos num canto com muita energia mas sem saber para onde ir.

 

Em jeito de anexo, deixo um excerto de um artigo do Nicolau Santos no Expresso de Junho sobre o TGV.

 

“É que, para os que estão distraídos, os transportes ferroviários são a grande aposta da União Europeia para o século XXI. Na verdade, em 2020 a Rede Transeuropeia de Transportes terá uma extensão total de 94.000 km de ferrovia, incluindo cerca de 20.000 km de linhas de alta velocidade. Este objectivo implica a construção de 12.500 km de novas linhas de caminho-de-ferro e a modernização de 12.300 km. Quando estiver concluída, espera-se uma redução de 14% no congestionamento rodoviário e uma redução anual de 4% das emissões de CO2. Última nota: a linha Madrid-Sevilha dá dinheiro. Madrid-Barcelona regista um tráfego colossal. Os franceses vão duplicar a linha Paris-Lyon e vão investir mais 14 mil milhões em novas linhas. Ou seja, há vários países a concretizar os seus projectos: Espanha, França, Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Itália, Holanda, Suécia, Grécia, Suíça, República Checa… Finalmente: olhe-se para o mapa acima. Somos muito periféricos. Queremos ficar ainda mais? E quantos fundos comunitários vamos perder? Adiemos portanto a decisão. Estude-se mais. Mas acho que vamos mesmo ter Alta Velocidade em Portugal. Só não sabemos é quando.”

 

6 comentários

Comentar post