26
Ago09
Sobre comparações abusivas
Irene Pimentel
Claro que jamais utilizaria a História para comparações abusivas com a realidade actual. Sou atenta ao contexto.
Se o fizesse, vir-me-ia logo à cabeça a forma como o Partido Comunista Alemão contribuiu para a subida de Hitler ao poder, ao erigir os sociais-democratas como «sociais fascistas». Claro que, ao ser criado o primeiro campo de concentração em Dachau, foram lá encarcerados tanto sociais-democratas como comunistas, mas o mal já estava feito. Upsss! Do que me fui lembrar e até estou a dar ideias!
Não, nem o salazarismo foi idêntico ao nacional-socialismo, nem este voltará com essa vestimenta.
Nunca disse, ao contrário do que com toda a desfaçatez afirmam defensores de Manuela Ferreira Leite (curiosamente de partidos que eu julgaria oporem-se ao PSD), que a candidata a primeira-ministra de Portugal seria «salazarista», ou até um «Salazar» revisitado(a), que quereria voltar instaurar uma ditadura no nosso país. Aliás se houvesse qualquer perigo de isso estar a acontecer em Portugal, eu própria não estaria a participar numa campanha eleitoral e enveredaria certamente por outro meio de luta.
Não, não penso que algo de terrível esteja para acontecer após 27/9.
E se eu dissesse tal tremendo disparate, ou estaria a ser oportunista (o que esforço por não ser) ou a padecer de grave anacronismo (o que é grave numa historiadora). Além disso, se eu estivesse a dizer esse tremendo disparate, estaria a ter a mesma atitude dos que eu critico: aqueles que dizem que vivemos num período de «asfixia democrática» e os que chamam «fascista» a tudo (sem saber o significado da palavra e do conceito), mas que, quando o «perigo fascista» se aproxima, não sabem detectá-lo.
Não, não penso que haja qualquer perigo, nem que se esteja a viver num período privado de liberdade.